terça-feira, 9 de setembro de 2014

ASPECTOS ÉTICOS NO ATENDIMENTO DE EMERGÊNCIA CLÍNICA


 
Aspectos Éticos e Legais no Atendimento de EMERGÊNCIA
 
Aspectos legais

Como Socorrista você deve conhecer os princípios éticos legais dos atendimentos em emergências, para conduzir suas ações de forma juridicamente correta, evitando complicações e processos judiciais para você e para sua instituição. Leis e regulamentos variam de uma região para outra. Você deve se manter informado das particularidades legais e protocolos da sua localidade.

Obrigatoriedade de socorro
Um cidadão comum poderá prestar auxílio simplesmente sinalizando o local e telefonando para o Resgate. No entanto, como Socorrista sua função possui o preceito de obrigatoriedade implícita de prestar socorro, e também, subentende que o atendimento seja prestado com qualidade profissional. Como Socorrista, será sua obrigação socorrer com proficiência e atualização.

Ao receber um chamado, você deverá imediatamente se dirigir para o local do incidente e fazer o atendimento adequado, mantendo-se dentro do limite de treinamento que você recebeu. Se você aplicar procedimentos errados ou se você negar socorro, sua instituição (ou ambos), assumirão solidariamente pela omissão de socorro, ou por negligência, ou incompetência, ou má fé.

Qualidade do atendimento

Qual a qualidade técnica esperada do atendimento realizado por um Socorrista?

Não se pode esperar que a qualidade técnica do atendimento prestado por um Socorrista seja igual ou superior aquela prestada por um médico. Portanto você não poderá ser responsabilizado com base nessa comparação. Mas a qualidade do atendimento será comparada com o nível de cuidados que outro Socorrista, com treinamento igual ao seu, teria aplicado em circunstâncias similares. Como Socorrista será esperado que você atenda às ocorrências com a proficiência que demonstrou nos testes para receber o seu certificado de Socorrista. No entanto, circunstâncias ambientais adversas podem interferir na qualidade do atendimento. Por exemplo, uma ocorrência noturna, com chuva e neblina, poderá dificultar significativamente e influenciar na qualidade do atendimento. Evidentemente que o desempenho será diferente daquele realizado em uma sala bem iluminada. Para cumprir o padrão, atenda todas as vítimas com prudência, mantendo-se bem informado e atualizado quanto às técnicas e quanto aos protocolos vigentes e, dê à vítima a atenção que o outro Socorrista, com treinamento igual ao seu, daria nas mesmas circunstâncias. É fundamental conhecer exatamente os protocolos exigidos na sua localidade.

Abrangência de atuação e responsabilidade
A abrangência de atuação do Socorrista pode ser definida por um currículo nacional ou regional. Por exemplo, nos EUA o currículo de Socorrista foi desenvolvido pelo Departamento de Transportes - DOT. O currículo define a capacitação necessária que o aluno deve obter durante um programa de Socorrista e predefine também as seqüências técnicas de atuação. Esses regulamentos e algumas normas podem ser, se necessário, modificadas pelo Regulador Médico para viabilizar o atendimento em circunstâncias locais. Em menor escala, o Regulador Médico de uma instituição, poderá também alterar alguns detalhes específicos dos protocolos ou a hierarquia de comando, para melhor definir a função do Socorrista. Por exemplo, em alguns casos, o Regulador Médico poderá decidir monitorizar os atendimentos por rádio ou telefone celular ou, com câmaras de vídeo.

Responsabilidades éticas e competências
A ética e a confiança estão implícitas à função do Socorrista. Assim você deve corresponder a essa confiança com atitudes profissionais, dentro de padrões convencionalmente aceitos. Procure melhorar seu desempenho. Sua instituição deverá manter programas de educação continuada, permitindo sua atualização. Tire o máximo de proveito desses programas. Não seja medíocre participando dos cursos simplesmente para cumprir carga horária. Comportamento ético requer honestidade. Prepare relatórios que expressem com fidedignidade as condições encontradas. Emita relatórios completos e precisos. Se você cometer um erro documente, não esconda. Nunca mude um relatório, a menos que seja para melhorar. Lembre-se que suas ações podem determinar a diferença entre a vida e a morte. A sua competência e comportamento ético são ingredientes valiosos para você, para sua instituição e, principalmente para a vítima.

Consentimento Expresso
Define a permissão que a vítima concede ao Socorrista em uma situação de emergência para que possa prosseguir com o atendimento. Se você deixar evidenciada sua função, em geral a vítima expressará o consentimento sem estresse e, com isso você estará conquistando a confiança e a cooperação da vítima. Esses dois elementos são fundamentais para você realizar um bom atendimento. Se a vítima não expressar o consentimento poderá então ser atendida dentro do princípio de consentimento implícito.

Consentimento implícito
Fica definido com mais evidência quando a vítima está inconsciente. Dentro do princípio legal a vítima terá dado, como resultado de sua incapacidade de se comunicar, o consentimento implícito para receber ajuda. Assim sendo, o Socorrista nunca deve de atender uma vítima inconsciente.

Consentimento de menores.
Menor é um indivíduo que não atingiu idade legal para assumir responsabilidade por seus atos. De acordo com a lei, menores – 18 anos, dependem de pais ou responsáveis para consentir o atendimento. No entanto, se o consentimento dos pais ou tutor legal não pode ser obtido, não hesite em atender. Não negue o atendimento a um menor simplesmente porque não conseguiu obter permissão dos responsáveis legais. Repasse a responsabilidade da autorização para os encarregados do hospital. Eles determinarão se o atendimento hospitalar poderá ser ou não adiado até que a permissão seja obtida. Lembre-se que o atendimento pré-hospitalar será sua responsabilidade. Ao seguir os protocolos você estará obtendo subsídio legal sob o ponto de vista de interpelações jurídicas.

Consentimento de pessoas com deficiência de desenvolvimento mental.
Se a vitima aparenta estar fora da realidade, recusa o atendimento ou coloca em risco você e outras pessoas, as ingerências legais nesse caso podem ser complexas. Um adulto dentro de suas faculdades mentais poderá, legalmente, recusar ser atendido. Porém, mesmo para os médicos com treinamento especializado poderá ser complicado determinar se a vítima está ou não consciente de seus atos. Em geral, se uma pessoa aparenta ameaçar sua própria integridade física, ou a de outros, será necessária providência imediata para submete-la a cuidados médicos. Você e pessoal do Resgate devem conhecer os mecanismos legais para lidar com vítimas que se recusam a receber atendimento e parecem não estar tomando atitudes racionais e razoáveis.

Recusa ao socorro
- Qualquer pessoa mentalmente apta é considerada competente legalmente para recusar o atendimento de emergência. Neste caso você deverá continuar tentando convencer a pessoa a aceitar sua ajuda e fazê-la entender quais as conseqüências que poderão advir dessa recusa. Em determinadas circunstâncias, outro membro da equipe ou um policial, pode ajudar a convencer a vítima.

Diretiva de avanço – Vítimas podem expressar através de testamento com anuência médica a recusa ao socorro. Esse processo é expressa o desejo da vítima portadora de doenças terminais, de não ser ressuscitada caso venha a sofrer parada cárdio respiratória.

Abandono
Fica caracterizado quando o atendimento de emergência é iniciado por uma pessoa com treinamento adequado e em seguida é interrompido antes que outra pessoa assuma o atendimento. A situação mais comum é observada quando o Socorrista avalia a vítima e determina que não há necessidade de remoção para um hospital, pressupondo que a vítima irá se recuperar sozinha e ao invés disso a condição da vitima se agrava ou leva ao óbito. O atendimento foi iniciado, mas a vitima foi abandonada antes que outra pessoa assumisse o caso, a vítima foi abandonada.

 Morte no local
Se quando você chegar ao local houver qualquer indicação que a vítima está viva, você deverá iniciar o atendimento adequado. No entanto se houver evidências de morte, você deverá seguir as normas e leis vigentes na localidade e cumprir os protocolos da sua instituição.

 Evidências de morte – As evidências que indicam que uma pessoa está morta são:

a)       Decapitação – A cabeça está separada do corpo.
b)      Rigor mortis – Enrijecimento dos músculos que ocorre horas após a morte.
c)       Decomposição – Quando a morte já ocorreu há mais de um dia.
d)      Lividez cadavérica – Cor vermelha ou roxa do sangue que decanta em direção ao solo, no corpo de uma pessoa morta. Lividez ocorre várias horas após a morte.
 
Negligência – Fica caracterizada quando lesão ou dano adicional acomete a vítima como resultado do atendimento realizado fora dos protocolos.

Confidencialidade
Informações confidenciais incluem: circunstâncias da ocorrência, local onde a vítima foi encontrada, dados obtidos com a avaliação, histórico de saúde e atendimentos prestados à vítima. Estas informações somente podem ser repassadas para o Resgate. Não repasse informações sobre a vítima nem mesmo para seus familiares e amigos. Informações públicas incluem: tipo de acidente e o nome da vítima. Procure saber quais informações são consideradas públicas pela sua instituição. Informações públicas podem ser divulgadas para a mídia através do processo que a sua instituição tenha aprovado.

Bom Samaritano
Pessoa que age com boa fé, durante uma situação de emergência, com a intenção pura e descomprometida de ajudar a vítima, sem esperar por qualquer compensação financeira ou promocional, sem malícia, sem desvio de conduta, sem ofender convecções sociais, sem maldade ou negligência grosseira, mantendo-se atualizado através de cursos reconhecidos, e aplicando os protocolos de primeiros socorros.

Regulamentos
Como Socorrista você estará sujeito a regulamentos que podem incluir, portarias administrativas da sua instituição, leis municipais, leis estaduais ou federais, parecer técnico do Conselho Federal, etc. São especialmente importantes as leis que regulamentam seu direito de exercer a profissão e de atuar como Socorrista. Os regulamentos, normas e portarias podem exigir que você registre seu certificado através de uma agência ou instituto estadual. Será sua a responsabilidade de manter atualizados os registros, credenciais ou certificados.

Relato de ocorrência
- Instituições governamentais exigem emissão de relatórios de ocorrências que incluam crime e doenças infecciosas e suicídio. Dentre essas ocorrências estão incluídos: ferimentos com faca, ferimentos com arma de fogo, acidente automobilístico, suspeita de abuso infantil, violência doméstica, abuso de idosos e estupro. Você deverá saber quais categorias de crimes devem ser relatadas na sua área. Você também deverá saber o método utilizado para emitir o relatório e como são administrados pela sua instituição. Doenças infecciosas devem também ser relatadas para as autoridades de saúde sanitária e você deverá se informar como esse processo é conduzido na sua instituição.

 Em caso de crime – Siga os seguintes procedimentos:

a)       Proteja-se. Procure garantir as condições de segurança local.
b)      Se não estiver seguro, aguarde a polícia.
c)       Sua prioridade é atender a vítima. Nada além da sua segurança pessoal deverá desviá-lo desse objetivo.
d)      Movimente a vítima somente se for necessário. Antes de mover a vítima, produza uma foto mental da cena.
e)       Toque somente no que for necessário para ter acesso à vítima. Após atender a vítima, saia do local.
f)        Preserve todos os detalhes encontrados na cena do crime para investigação posterior. Não mexa na mobília do ambiente a menos que esteja dificultando seus movimentos para prestar os cuidados necessários à vítima.
g)      Preste atenção onde você posiciona o seu equipamento. Evidências podem ser destruídas ou alteradas se você apoiar equipamentos sobre elas.
h)       Mantenha todos os curiosos afastados do local.
i)         Após o atendimento prepare um relatório e faça um desenho da cena, mostrando como e onde você encontrou a vítima. Isso pode ser útil se você precisar lembrar do incidente 2 ou 3 anos depois.

 Documentação
- Após concluir, registre todos os detalhes. A documentação deve seguir as instruções da instituição. A documentação é um instrumento importante porque não será capaz de memorizar detalhes de todos os atendimentos que prestou ao longo de um período determinado de tempo. A documentação também serve como registro legal no caso de processo judicial. A documentação deve ser clara, precisa e legível e deve incluir as seguintes informações:

a)       Condição da vítima quando encontrada.
b)      Descrição da vítima, da lesão ou da natureza do mal súbito.
c)       Sinais vitais iniciais e posteriores.
d)      Atendimento que você deu à vítima.
e)       Nome da instituição e da pessoa que assumiu a vítima.
f)        Quaisquer outros fatos notáveis.
g)      Qualquer possibilidade de exposição às doenças infecciosas.
h)       Qualquer fato incomum relacionado ao caso.

 Referências

01) NORMAN E. MCSWAIN; SCOTT FRAME; JEFFREY P. SALOMONE, Atendimento Pré-Hospitalar Móvel PHTLS. Rio de Janeiro: Elsevier. 2004.
02) PIRES, M.T.B.; STARLING,S.V, Manual de Urgência em Pronto Socorro. Riode Janeiro: Editora MEDSI/GB - 2002.
03) BERGERON,J. David, Primeiros Socorros. São Paulo – SP: Atheneu, 1999