domingo, 22 de abril de 2012

BREVE VISÃO SOBRE O CÂNCER

BREVE VISÃO SOBRE O CÂNCER


O corpo humano é formado por milhões de células que se reproduzem através de um processo chamado divisão celular. Em condições normais, esse processo é ordenado e controlado e é responsável pela formação, crescimento e regeneração dos tecidos saudáveis do corpo.

As células que constituem os animais são formadas por três partes:
- Membrana celular (parte mais externa da célula).
- Citoplasma (corpo da célula).
- Núcleo (onde ficam os cromossomas, que, por sua vez, são compostos de genes).

GENES

Os genes são componentes celulares que funcionam como arquivos, que guardam e fornecem instruções para a organização das estruturas, formas e atividades das células no organismo. Toda a informação genética encontra-se inscrita nos genes, em uma "memória química" – chamada de ácido desoxirribonucleico (DNA). É através do DNA que os cromossomas passam as informações para o funcionamento da célula.

Existem situações nas quais estas células, por razões variadas, sofrem uma “metamorfose” tecnicamente chamada de carcinogênese, e assumem características aberrantes quando comparadas com as células normais.

Essas células perdem a capacidade de limitar e controlar o seu próprio crescimento passando, então, a multiplicarem-se muito rapidamente sem nenhum controle.

O resultado desse processo desordenado de crescimento celular é uma produção em excesso dos tecidos do corpo (que podem ser processos inflamatórios, infecciosos ou mesmo os crescimentos celulares benignos).

 CÂNCER

A palavra câncer vem do grego karkínos, que quer dizer caranguejo (fig. 1) e foi utilizada pela primeira vez por Hipócrates (fig.2), o pai da medicina que viveu entre 460 e 377 a.C.

O câncer não é uma doença nova. O fato de ter sido detectado em múmias egípcias comprova que ele já comprometia o homem há mais de 3 mil anos antes de Cristo.

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos (fig.3), podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo.

Tipos de crescimento celular

A proliferação celular pode ser controlada ou não controlada.
No crescimento controlado, tem-se um aumento localizado e autolimitado do número de células de tecidos normais que formam o organismo, causado por estímulos fisiológicos ou patológicos. Nele, as células são normais ou com pequenas alterações na sua forma e função, podendo ser iguais ou difrentes do tecido onde se instalam. O efeito é reversível após o término dos estímulos que o provocaram.

A hiperplasiametaplasia e a displasia são exemplos desse tipo de crescimento celular (fig 4).
Hiperplasia:
É o aumento localizado e autolimitado do número de células de um órgão ou tecido. Essas células são normais na forma e possuem a mesma função das do tecido original. A hiperplasia pode ser fisiológica (normal) ou patológica.
• Na forma fisiológica, os tecidos são estimulados à proliferação para atender às necessidades normais do organismo. Um bom exemplo é observar o que ocorre com a glândula mamária durante a gestação.
• Na forma patológica, geralmente um estímulo excessivo determina a proliferação, como, por exemplo, na hiperplasia endometrial estimulada por excesso de estrogênios.  Na hiperplasia, assim que cessam os estímulos, cessa também a proliferação celular.

Displasia:
É o processo de crescimento celular no qual as células apresentam modificação de algumas de suas características. Nele há alteração da forma e tamanho das células, além da presença frequente de mitoses (divisões celulares).
As displasias do colo do útero podem ser sequenciais, progressivas, mas podem também regredir. A progressão da lesão pode levar ao câncer do colo do útero.

Metaplasia:
É o processo de crescimento, de reparação celular, no qual as células são normais, mas diferentes daquelas do tecido original.
Exemplos dessas alterações são vistos frequentemente em epitélios de revestimento, como acontece com os fumantes, nos quais há substituição do epitélio pseudo-estratificado ciliado que reveste os brônquios por um tecido diferente, o epitélio escamoso estratificado. A metaplasia também é reversível quando cessam os estímulos que a provocam.

Neoplasia:
É uma proliferação de células anormal do tecido, que foge parcial ou totalmente ao controle do organismo e tende à perpetuação, com efeitos agressivos sobre o hospedeiro
No crescimento não controlado, tem-se uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é quase autônomo, persistindo dessa maneira excessiva após o término dos estímulos que o provocaram. As neoplasias (câncer in situ e câncer invasivo) correspondem a essa forma não controlada de crescimento celular e, na prática, são denominadas tumores.

 As Neoplasias podem ser benignas ou malignas:
- Tumores Benignos: São tumores localizados onde se originaram, possui crescimento lento, podendo estabilizar ou até involuir, são delimitados por tecido fibroso (cápsula), seu tamanho pode pressionar outros órgãos, não dão origem às metástases.
LIPOMA (que tem origem no tecido gorduroso), o MIOMA (que tem origem no tecido muscular liso) e o ADENOMA (tumor benigno das glândulas) são exemplos de tumores benignos.

- Tumores Malignos: in situ (tumor primário) crescem desordenadamente em grupo, as células malignas se reproduzem mais rapidamente, competem e precisam de mais nutrientes do que as células normais.

O crescimento das células cancerosas é diferente do crescimento das células normais. As células cancerosas, em vez de morrerem, continuam crescendo incontrolavelmente, formando outras novas células anormais. Dão origem às metástases. Conforme as células cancerosas vão substituindo as células normais dos tecidos invadidos esses vão perdendo suas funções.

Diversos organismos vivos podem apresentar, em algum momento da vida, anormalidade no crescimento celular – as células se dividem de forma rápida, agressiva e incontrolável, espalhando-se para outras regiões do corpo – acarretando transtornos funcionais. O câncer é um desses transtornos.

O câncer se caracteriza pela perda do controle da divisão celular e pela capacidade de invadir outras estruturas orgânicas.

 Uma célula normal pode sofrer uma mutação genética, ou seja, alterações no DNA dos genes. As células cujo material genético foi alterado passam a receber instruções erradas para as suas atividades (fig 5).


Independentemente da exposição a agentes cancerígenos ou carcinógenos, as células sofrem processos de mutação espontânea, que não alteram seu desenvolvimento normal.

As alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados proto-oncogenes, que, a princípio, são inativos em células normais. Quando ativados, os proto-oncogenes transformam-se em oncogenes, responsáveis pela malignização (cancerização) das células normais. Essas células diferentes são denominadas cancerosas.

Alterações no DNA:

A maioria dos danos do DNA é decorrente de erros que acontecem durante a reprodução da célula normal. Quando uma célula normal sofre um dano no seu DNA, ela repara esse dano ou morre. As células cancerosas nem reparam o dano do seu DNA, nem morrem, como deveriam. Em vez disso, essas células cancerosas se dividem e formam novas células com o mesmo tipo de dano no DNA, isto é, ocorre uma mutação, formação do tumor original e se não houver como deter estas células malignas poderá causar a metástase. (fig 6). 


 METÁSTASE: mudança de lugar, transferência. Crescimento infiltrativo de células neoplásicas formadas a partir da primeira lesão.

O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese ou oncogênese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor visível.

Os oncogenes são formas anormais de genes que normalmente regulam o crescimento celular. Por exemplo, o gene ras é anormal em aproximadamente 25% dos cânceres humanos. A proteína Ras (codificada pelo gene ras) regula ou sinaliza a divisão celular.

Na maior parte das situações, o gene é inativo, mas nessas células malignas a proteína Ras é ativa e transmite a mensagem para as células se dividirem, ainda que estas não devam fazê-lo.

A ativação de oncogenes não é inteiramente conhecida, mas muitos fatores podem contribuir, incluindo carcinógenos químicos (por exemplo, no fumo de cigarro) ou agentes infecciosos (por exemplo, vírus) (fig. 7).


  TIPOS DE CÂNCER SÓLIDOS

SARCOMA - São tumores que tem origem nas células dos ossos, músculos, gorduras, tendões ou vasos sanguíneos
Exemplos: NEUROSARCOMA, HEPATOSARCOMA, MIOSARCOMA, CONDROSARCOMA

BLASTOMA - tumor neoplásico maligno que reproduz estruturas com características embrionárias (células que se diferenciam em qualquer outra).
Exemplos: CONDROBLASTOMA; NEFROBLASTOMA; HEPATOBLASTOMA; NEUROBLASTOMA

CARCINOMA - o câncer se origina nos tecidos epiteliais de revestimento ou a formação das glândulas. (Exemplos de revestimento: pele, mucosa das vias aéreas, mucosa do tubo digestivo e exemplos de glândulas: tireóide, mama e próstata).
Exemplos: HEPATOCARCINOMA; NEUROCARCINOMA, ADENOCARCINOMA

• MELANOMA - tumores formados por células pigmentadas da pele

Há tumores cuja nomenclatura utiliza o nome dos cientistas que os descreveram pela primeira vez. São exemplos: o linfoma de Burkitt, o sarcoma de Ewing, o sarcoma de Kaposi, o tumor de Wilms (nefroblastoma), doença de Hodgkin, etc.

Existem CAUSAS ou FATORES DE RISCOS externos e internos que provocam o câncer
Fatores Externos: químicos (fumaça de cigarro, substâncias cancerígenas, álcool em excesso), físicos (excesso de luz solar), Radiação e biológicos (vírus).
Fatores Internos: hormonais, imunológicos e mutações herdadas (hereditárias).

DIAGNÓSTICO e TRIAGEM
Uma história completa e o exame físico são pré-requisitos para um diagnóstico precoce. Os médicos devem ter conhecimento dos fatores predisponentes e indagar especificamente a respeito de câncer familiar, exposição ao ambiente e patologias anteriores (por exemplo, doenças auto-imunes, terapia imunossupressiva prévia, AIDS).

A revisão dos sistemas é importante e deve-se dirigir aos sintomas de fadiga, perda de peso, febres ou sudorese noturna, tosse, hemoptise, hematêmese ou hematoquezia, alteração nos hábitos intestinais e dor persistente.

O exame físico deve dar particular atenção à pele, linfonodos, pulmões, mamas, abdome e testículos e também próstata, reto e vagina.

Os principais objetivos da triagem do câncer e diagnóstico precoce são diminuir a mortalidade por câncer e reduzir os custos financeiros (fig.8).



A evolução dos tumores

O conhecimento da forma como evoluem ou crescem alguns tumores permite que eles sejam previstos ou identificados quando a lesão ainda está na fase pré-neoplásica, ou seja, em uma fase em que a doença ainda não se desenvolveu.

A evolução do tumor maligno depende:

■ Da velocidade do crescimento tumoral.
■ Do órgão onde o tumor está localizado.
■ De fatores constitucionais de cada pessoa.
■ De fatores ambientais etc.

Frente a essas características, os tumores podem ser detectados em diferentes fases

■ Fase pré-neoplásica (antes da doença se desenvolver).
■ Fase pré-clínica ou microscópica (quando ainda não há sintomas).
■ Fase clínica (apresentação de sintomas).

TRATAMENTO PARA OS CÂNCERES
CIRURGIA: É o tratamento local para a remoção do tumor. Algumas vezes os linfonodos (gânglios) próximos devem ser também retirados.

RADIOTERAPIA: Utiliza raios de alta energia para atingir as células cancerosas e deter seu crescimento.

QUIMIOTERAPIA: É o uso de medicamentos injetáveis ou orais com objetivo de deter o crescimento das células cancerosas.

TERAPIA BIOLÓGICA: Também chamada imunoterapia, utiliza o próprio sistema imunológico do corpo para lutar contra a doença.

Outros tipos de tratamentos

- HORMONIOTERAPIA (tratamento com hormônios - inibe o crescimento de células malignas)
- TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA
- TRATAMENTO COMBINADO: 2 ou 3 tipos de tratamentos diferentes podem ser utilizados concomitantemente ou em fases.

PENSE NISSO

• O câncer pode surgir em qualquer parte do corpo.

• Existem mais de 100 tipos diferentes de câncer, cada um com características clínicas e biológicas diversas, que devem ser estudadas para que o diagnóstico, o tratamento e o seguimento sejam adequados.

• Ainda existem muitas ideias erradas sobre a doença. A palavra câncer traz em si alguns mitos. Muitas vezes, uma má interpretação de fatos relacionados ao câncer ou uma generalização de um caso isolado da doença, assim como especulações, acabam por fazer com que essas ideias e até mesmo crenças, se apresentem como verdades.

• Todo profissional de saúde deve ter conhecimentos sólidos sobre o câncer para que possa informar, cuidar e encaminhar corretamente seus pacientes.

• Face à gravidade da situação do câncer como problema de saúde que atinge toda a população, todos os profissionais de saúde, em maior ou menor grau, são responsáveis pelo sucesso das ações de controle da doença.

Referências

- SMELTZER Suzanne C. Brunner/Suddarth – Tratado de Enfermagem Médico-Cirúgico. Vol.2. Pg.813-815. Sétima Edição – Ed. Guanabara&Koogan.

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